Mãe e filho
Poesias Espíritas
POR QUE SE LAMENTAR?
(Grupo Espírita de Pau – Médium: Sr. T...)

Deus fez o homem ativo e livre e inteligente,
De seu próprio destino, artífice também.
Dois caminhos lhe abriu à escolha competente:
Um que ao mal o conduz; outro que o conduz ao bem.
E deles o primeiro é doce na aparência;
Porquanto esforço algum requer de quem o segue:
Sem cuidados quaisquer, só viver na indolência,
Em instintos brutais livremente prossegue,
É tudo o que é preciso. – O segundo caminho
Certo esforço requer, bom trabalho em ação,
Com vigilância atenta e sindicante alinho,
Sempre ágil a razão e o instinto em contenção.
O homem, livre de optar, pode dar-se ao primeiro,
Na ignorância estagnar e na imoralidade;
Preferindo ao dever um sentir mais grosseiro,
À suprema razão, o instinto e a maldade.
Ou bem pode ele, então, dando dócil ouvido
A uma voz que lhe diz: “Nasceste pra crescer,
E sempre progredir, não treva retido.”
No segundo caminho um nobre anseio ter.
Da sua decisão o seu destino depende
Sombrio se vier de uma errônea visão,
Ou qual da noiva alegre um olhar sorridente
Àquele homem feliz que herdou seu coração.
Se fizestes o mal, podereis neste mundo
Riquezas adquirir, títulos, honrarias;
Mas do Espírito a calma, e esse prazer profundo
Que nasce do ideal, promotor de alegrias
Fugirão para sempre; e o remorso ingente
A voz vos seguirá mesmo em vossos festins,
Cruel a misturar com nota assaz dolente
Vossos cantos de glória e estribilhos afins.
Mas quando vos chegar cruel a hora fatal,
Livre o Espírito, enfim, de seu corpo tão caro,
Novamente entrará em seu curso moral,
Onde a verdade é luz e o mal requer reparo,
Onde o sofisma impuro, a lassa hipocrisia
Acesso já não têm, pois tudo é luminoso,
Fantasma acusador, vossa vida de orgia
Surgirá ante vós, em toda a parte, ansioso.
Vossos crimes serão, rico, os vossos carrascos.
Desnudo ver-vos-ei; poderoso, sozinho;
Pasmado fugireis qual corça, entre penhascos,
Do caçador que a perde irado e em desalinho.
Talvez que ébrio de orgulho e tanto sofrimento,
Soltareis contra Deus grito blasfemador,
Mas vossa consciência atenta, no momento,
Elevará então seu brado vingador:
“Homem, de blasfemar cesse a tua demência.
“Deus já te criou livre, ativo, inteligente,
“Para ti expressou seu querer e potência,
“Artífice te fez de ti mesmo, e consciente.
“Tens na vontade tudo, enfim, pra transformar
“Teu mal em alegria. Além dos escarcéus,
Olha alguém que o dever cumpriu e a caminhar,
“Lutou muito e venceu, na conquista dos céus.
“Como preço do esforço a mesma recompensa
“Te espera. – Por que, pois, tanta lastimação?
“Ergue-te. E a Deus, que é bom, roga assistência intensa;
“Ora, trabalha e luta, e o céu terás, então.”

Um Espírito protetor

Observação – Não levamos em conta algumas irregularidades de versificação, tendo em vista as idéias expendidas.

MÃE E FILHO

(Sociedade Espírita de Bordeaux, 6 de julho de 1862 – Médium: Sr. Ricard)

Num berço rosa e branco uma criança,
Um belo anjo que um cântico embalava;
No olhar santo da mãe quanta esperança,
No filho, ébria de amor, terna o velava!...

Oh! como é belo o filho de minha alma!...
Dorme, querido, estou contigo, assim...
Ao despertares do carinho a palma
E teus beijos serão só para mim!...

Oh! como é belo!... Deus, tomais-me a vida
Se de mim o tirares, amanhã...
Guardai-o bem, vos rogo enternecida!...
Já sua boca murmurou: Mamã!!!...

Este nome tão doce... e se vigia
Na primavera qual raio de sol...
É palavra de amor cuja harmonia
Nos faz sonhar com o céu em voz bemol!...

Oh! por seus braços ao ser enroscada,
Quando em meu seio lhe ouço o coração,
Eu sou feliz, minh'alma inebriada
Feliz partilha de excelsa emoção...

É tudo para mim... Ele é meu sonho!
Para ele só viver... é minha sorte.
Seiva de meu amor vivo e risonho,
Deste berço afastar-se deve a morte!!!...

Brevemente, meu Deus, por mim seguro
Vê-lo-ei ensaiar primeiros passos!...
Oh! que dia feliz... vem, vem futuro...
Eu temo que não chegues aos meus braços!

E mais ainda, eu na minha esperança
Bem grande o vejo e virtuoso e honrado,
A pureza do tempo de criança
De o conduzir feliz tendo guardado.

Oh! como é belo... Deus, tomais-me a vida
Se a desgraça o abater lá no amanhã!
Conservai-o, eu imploro, agradecida,
Já sua boca murmurou: Mamã!!...

Mas está frio... e pálido seu lábio!
Acorda, filho de meu coração!
Vem sobre o seio meu... Ó Deus, és sábio,
Vê que ele está gelado... E eu tremo, então!!

Ah! fez-se o fim! De viver já cessou!
Desgraça sobre mim! Perdi meu filho!
Deus sem piedade... enraivecida estou...
Não sois um Deus de amor e justo brilho!

Este anjo de inocência que vos fez
Para o tomardes já de meu amor?...
Abjuro a minha crença, aqui, de vez...
E aos vossos olhos morro em minha dor...
..............................................................................
“Mãe!... Sou eu!... A minha alma se evolou
“E o Eterno reenviou-me aos pés de ti.
“Renega a raiva, mãe, que te manchou;
“Retorna a Deus... trago-te a Fé, aqui!...

“Curva-te às leis de Deus para o teu bem.
“És mãe culpada, em remoto passado...
“Fizeste um filho teu morrer também:
“Deus te puniu!... Pagá-lo pois te é dado!

“Toma este livro; ele te acalmará.
“Ditado por Espíritos, o trilho,
“Se o leres, mãe, de certo mostrará
“Onde um dia, no céu, terás teu filho!!!

Teu Anjo-da-Guarda
R.E. , março de 1863, p. 140